Muito se fala sobre a destruição das florestas pelo homem e sobre os
riscos que a agricultura apresenta aos biomas nos quais ela é implantada. Mas
nem tudo está perdido. Muito, aliás, anda sendo recuperado através de um
sistema de produção que estimula a plantação de espécies agrícolas e florestais
em uma mesma área.
O Sistema Agroflorestal, também conhecido como “SAF”,
que vem tornando possível a produção de grãos, frutos e fibras com o cultivo de
diferentes espécies e incentivando agricultores na recuperação de áreas
florestais no Brasil.
Com a ajuda de órgãos como a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária), podemos tornar possível o sonho de viver da própria
produção sem fazer mal à natureza.
De Norte a Sul do Brasil, muitas áreas desflorestadas da Região
Amazônica e da Mata Atlântica estão passando por esse processo de recuperação.
A Embrapa faz o monitoramento de algumas dessas áreas por meio de satélites e,
com as imagens, conseguimos saber a distribuição espacial dessas agroflorestas
e monitorar sua evolução, subsidiando assim o planejamento do agricultor, fornecendo
ainda o arcabouço técnico-científico para algumas políticas públicas de
incentivo à implantação de sistemas agroflorestais, a exemplo do PRONAF
Florestal (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar)”, através
da Embrapa Monitoramento por Satélite.
Normalmente, parte do próprio produtor buscar alternativa para produzir
nas áreas e recuperá-las. Em muitos casos, isso acontece quando eles se dão
conta de que os espaços onde costumavam cultivar uma cultura ou que destinavam
à pastagem estão degradados. Quando a opção é investir em uma agrofloresta, o
agricultor tem grande chance de extrair disso benefícios econômicos, com a
venda de seus produtos; e sociais, porque isso caracteriza sua fixação no
campo. Para o meio ambiente, os benefícios são diversos:
A implantação de agro-florestas faz com que a biodiversidade, tanto da
fauna quanto da flora, se eleve automaticamente. Num SAF, também se vê o
acréscimo de matéria orgânica no solo, diminuindo a erosão do solo dessas
áreas. Ou seja, a quantidade de sedimentos que vão para os rios são menores. Há
um significativo aumento da biomassa e do carbono fixado. Conforme a região, um
hectare de pastagem degradada possui aproximadamente 2 toneladas de carbono
acima do solo, já um hectare de agrofloresta pode chegar a 100 toneladas.
O sistema que promove a integração de florestas com a agricultura pode
ser implantado em qualquer bioma de qualquer região. Para que os agricultores
tenham resposta rápida, o ideal é que escolham espécies típicas de sua região.
E misturar espécies agrícolas, gramíneas, arbustivas, frutíferas e florestais é
permitido. O agricultor só precisa estar preparado para o tempo no qual cada
uma vai se desenvolver e produzir.
É diferente de uma monocultura,
onde o foco e a implantação de uma cultura única, como por exemplo, milho,
feijão, banana, cacau, açaí ou seringueira. Quando se planta tudo ao mesmo
tempo, em geral, no primeiro ano o agricultor vai colher milho e o feijão. Já
as espécies frutíferas produzem no segundo ano e as florestais nos anos
posteriores, conforme as condições do solo e clima da região. Tudo isso forma
uma composição diversificada.
Uma grande vantagem para o agricultor é não precisar lidar com “pragas e
doenças”. Como a biodiversidade é elevada, dificilmente elas atacam espécies
presentes em agroflorestas:
Se aparece uma lagarta, por exemplo, rapidamente um passarinho vem
comê-la. Nós , os biólogos, chamamos
isso de controle biológico, portanto, um controle natural . Dessa forma, os
agricultores não precisam utilizar agrotóxicos e podem vender seus produtos
como orgânicos, até com certificação.
Para diferenciar uma floresta de uma agrofloresta é só verificar a
quantidade de espécies presentes na área e sua distribuição espacial na região:
A agrofloresta possui em torno de dez a vinte espécies. Já uma floresta
natural possui centenas de espécies por hectare. Utilizando ainda as imagens de
satélite podemos ter uma visão sintética da distribuição espacial dessas áreas,
produzindo informações e mapas que são fundamentais no planejamento do uso da
terra e em processos de tomada de decisão para o agricultor e para os órgãos
públicos.
Trabalhando em um projeto de biocombustíveis, visitei algumas fazendas
de dendê na região do médio oeste do Estado do Pará , que continham projetos de
agroflorestas, desenvolvidas justamente pelas exigências das condicionantes das
licenças ambientais para a instalação dos projetos de monocultura do projeto, e
acabaram tornado-se os “olhos da menina” das fazendas, pois os seus
proprietários verificaram além da melhoria das condições ambientais , o agregado
social da questão, o desenvolvimento de especies animais praticamente extintas da região, tudo catalizando a recuperação das áreas degradas propostas, com a expectativa que
também venham a participar nos resultados econômicos do projeto, pois neles
estão contidos muitas espécies de madeira de lei, naturais da região, já autorizadas para exploração econômica, ressalvadas as condições de extração planejada e autorizada pelas autoridades do meio ambiente.
È o homem que entende e respeita a natureza, e ela lhe devolve , como agradecimento.
Seguem algumas fotos destes
sistemas do local visitado,
por Renato Ariboni, biologo ariboni.renato@gmail.com
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