18 março 2012

ECO Soluções 3 - Utilização de Lodo de Esgoto tratado (biossólido) em Plantações Florestais

Introdução
Alguns municípios brasileiros têm estações de tratamento de esgoto, onde é gerada grande quantidade de resíduo sólido, cujo destino final deve levar em consideração fatores econômicos, ambientais, sanitários e sociais envolvidos.
O reaproveitamento desse resíduo em plantações florestais como fertilizante e condicionador de solo parece ser uma das opções mais indicadas, pois além de vantagens nos diferentes fatores citados anteriormente, o lodo de esgoto tratado (biossólido) pode trazer benefícios ao plantio florestal com a diminuição da adubação química convencional e o aumento da produtividade.
Área Florestal
É importante ressaltar que o lodo de esgoto urbano deve ser devidamente tratado antes de ser utilizado nas plantações florestais. Nesse tratamento os objetivos principais são a diminuição dos patógenos e do teor de água. Depois de tratado, torna-se um produto rico em matéria orgânica, nitrogênio, fósforo, cálcio e micronutrientes, agregando ainda partículas minerais que podem melhorar as características físicas e químicas do solo.
O uso do lodo em plantações florestais pode ser considerado ainda mais atrativo, se considerarmos que:
1- Os produtos dessas culturas não se destinam à alimentação humana ou animal;
2- As aplicações são realizadas com grandes intervalos de tempo (5 a 7 anos) o que gera baixo impacto sobre o ecossistema;
3- Existem extensas áreas de florestas plantadas disponíveis;
4- As plantações florestais ocupam geralmente solos de baixa fertilidade;
5- A malha de raízes finas absorve de imediato os nutrientes liberados pelo lodo;
6- Facilidade de aplicação nos talhões em qualquer época de desenvolvimento do plantio;
7- Imobilização dos nutrientes na biomassa lenhosa (fitoremediação) e seqüestro de CO2.
Por outro lado, sabe-se que nas grandes cidades industrializadas (por exemplo, São Paulo), o esgoto doméstico chega à estação de tratamento misturado com o esgoto industrial, o qual freqüentemente carrega metais pesados. Esses componentes, quando em níveis elevados, são tóxicos e podem tornar inviável a utilização do lodo nos plantios florestais e nos agroecossistemas de modo geral.
Experimentos na área florestal
Os experimentos têm duas vertentes: a primeira de caráter florestal - diminuir a adubação química convencional mantendo ou incrementando a produtividade das plantações florestais e a segunda, de caráter ambiental e ecológico - destinar esse resíduo, em larga escala, de modo seguro ao ecossistema.
Estudos sobre a utilização do lodo em plantações florestais estão sendo conduzidos desde 1998 sob coordenação do professor Fábio Poggiani, do Departamento de Ciências Florestais da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” e têm apresentado resultados interessantes.
Inicialmente foram implantados dois experimentos na Estação Experimental de Itatinga, pertencente a ESALQ/USP e atualmente existem seis experimentos na Estação Experimental e diversos outros implantados nas empresas florestais: Duratex, Eucatex, International Paper, Ripasa, Suzano e Votorantin Celulose e Papel. Esses experimentos, de modo geral, estão avaliando o melhor modo de aplicação, a dosagem adequada, o crescimento das árvores, a sustentabilidade florestal e os possíveis impactos ambientais.
O projeto envolve pesquisadores da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (ESALQ) e é desenvolvido em parceria com o Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (IPEF), Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA), Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP) e empresas florestais.
Nos experimentos implantados na Estação Experimental, foram realizados vários estudos podendo-se destacar:
Estudo 1 - Ciclagem de nutrientes após aplicação de lodo de esgoto (biossólido) sobre latossolo cultivado com Eucalyptus grandis - Autores: Pesquisador Dr. Marcelino Carneiro Guedes e Prof. Dr. Fábio Poggiani
O objetivo do trabalho foi estudar o efeito da utilização do lodo em um povoamento de Eucalyptus grandis tanto na produção de biomassa como na ciclagem de nutrientes. Os resultados mostraram que a aplicação de lodo alterou o desenvolvimento e o estado nutricional dos eucaliptos, bem como os padrões de reciclagem dos nutrientes:
i) A produção de fitomassa arbórea pelos eucaliptos que receberam o lodo foi significativamente maior do que no tratamento testemunha e, em média, maior também do que na fertilização mineral;
ii) A aplicação do lodo propiciou, na fase final da rotação, maiores estoques de nutrientes em todos os compartimentos do ecossistema, obtendo maiores teores de P, Ca e Zn no solo onde biossólido foi aplicado, o que evidencia maior capacidade em manter a sustentabilidade produtiva do ecossistema quando se aplica biossólido.

Alternativas para o reaproveitamento do lodo de esgoto , é o tema deste 2º capitulo da Serie ECO SOLUÇÕES do blog .

Lodo de esgoto é um resíduo rico em matéria orgânica gerado durante o tratamento das águas residuárias nas Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs). Biossólido é o nome dado ao lodo de esgoto, tratado ou processado, com características que permitam sua reciclagem de maneira racional e ambientalmente segura.
No Brasil, a disposição final do lodo geralmente é o aterro sanitário. Além do alto custo, que pode chegar a 70 % do custo operacional de uma ETE, a disposição de um resíduo com elevada carga orgânica no aterro, agrava ainda mais o problema com o manejo do lixo urbano. Em países da Europa e América do Norte, o lodo geralmente é incinerado, depositado em aterros sanitários ou utilizado em áreas agrícolas, dependendo das características do resíduo.
Entretanto, o aproveitamento do biossólido na agricultura como adubo só é permitido, se todos os requisitos qualitativos e monitoramento das áreas aplicadas estabelecidos pelo CONAMA, estiverem rigorosamente atendidos.
Venho acompanhando a anos este tema, verifica-se existirem muitas iniciativas de reaproveitamento agricola do lodo, e destaco aqui a experiência aplicada na silvicultura.